A violência nas escolas deixou de ser acertos de contas entre alunos na hora da saída; os professores, conforme estudo da UEM, estão em segundo lugar como vítimas de agressões
Na tarde de segunda-feira (16), a atitude de um aluno de 8 anos preocupou a direção do Colégio Estadual Brasílio Iteberê, na Zona 2, em Maringá. De acordo com a diretora da instituição, Janaiçara Lara Tait, o menino se irritou com os colegas durante a aula e começou a atirar carteiras e cadeiras sobre o chão.
Ninguém se feriu, mas, como não localizamos a mãe por telefone na hora para comunicar o que estava acontecendo, tivemos de acionar a Patrulha Escolar e o Conselho Tutelar, conta.
Segundo Janaiçara, não é a primeira vez que o caso não é inédito. Trabalho há mais de 12 anos nesse colégio e foi a primeira vez que um caso assim aconteceu, conta, acrescentando, em contrapartida, que, no contexto mundial, problemas envolvendo alunos e professores se tornaram mais freqüentes.
O excesso do aluno condiz com uma pesquisa publicada, no ano passado, pela revista Acta Scientiarum Human and Social Sciences (volume 30, nº 1). O autor, Claudivan Sanches Lopes, professor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Mestre em Educação, obteve dados de 98 instituições locais dos Ensinos Fundamental e Médio, entre públicas e privadas, entre os anos de 2003 e 2006.
Lopes constatou que a violência brutal e generalizada acontece em menor grau, predominando as microviolências e as incivilidades, como as agressões verbais e o desrespeito. Os índices de agressões físicas, depredação e vandalismo também chamaram atenção do pesquisador.
O pátio e áreas de lazer são os locais onde mais ocorrem agressões, tanto nas escolas particulares como públicas. Já nas sala de aulas, os problemas das instituições públicas são quase quatro vezes mais freqüentes do que nas particulares.
A pesquisa de Lopes considerou elevadas as taxas de agressões físicas informadas pelas instituições 57% na rede municipal, 50% na rede estadual e 34% na rede privada. Em geral, de acordo com a pesquisa, os maiores autores e as maiores vítimas são os próprios alunos pelo menos 60% das instituições alegaram esse tipo de violência. Os professores não costumam revidar, mas ocupam o segundo lugar entre as vítimas.Em segundo lugar, as vítimas são os professores.
O estudo mostra que os pedidos de afastamentos de professores, em razão de casos de violência sofrida, é quase cinco vezes maior nas escolas públicas, se comparado com os estabelecimentos de ensino particular.
Medo de dar aula
De acordo com o presidente do núcleo maringaense da Associação dos Professores do Paraná (APP), Claudemir Onofre Feltrin, muitos profissionais alegam ter receio de dar aula, por conta da personalidade agressiva de alguns estudantes. É uma situação que se agrava a cada dia, diz.
Muitos professores são obrigados a pedir licença médica do trabalho, em função de problemas de saúde ocasionados pelo estresse. A promotora da Infância e da Juventude, Mônica Louise de Azevedo, complementa: as escolas passam por uma crise identidade; os professores, por uma crise profissional; e os alunos, por uma crise de limites.