Neste sábado, completam-se cem anos do nascimento do arcebispo de Olinda e Recife Dom Hélder Câmara. E Maringá tem uma participação importante na memória de um dos religiosos mais respeitados - e também mais polêmicos - do País.
É que o escritor e professor do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Walter Praxedes, 43 anos, é co-autor do livro Dom Hélder Câmara: o profeta da paz, uma das obras de referência sobre o religioso que enfrentou a ditadura miliar implantada no País a partir de 1964.
Praxedes participa de vários eventos pelo Brasil com o relançamento do livro em sua segunda edição. O professor da UEM já esteve em Recife na semana passada. Esta semana passou pelo Rio de Janeiro e tem agendado eventos para São Paulo e Santa Catarina, tudo por conta do centenário de Dom Hélder.
No Brasil, as pessoas não têm a dimensão da importância de Dom Hélder, diz o escritor.
Não devemos esquecer dele, precisamos mostrar o projeto de sociedade dele que os jovens não conhecem hoje.
Dom Hélder Câmara: o profeta da paz foi escrito em conjunto por Praxedes e o professor de História da Educação, da Universidade de São Paulo (USP), Nélson Pileti, em cinco anos de pesquisa, análise de mais de oito mil páginas de documentos oficiais e pessoais e mais de 200 horas de entrevistas gravadas em fitas.
A obra está na segunda edição, lançada no ano passado pela Editora Contexto, com três mil exemplares. A primeira foi lançada em 1997, com outro título, Entre o poder e a profecia, pela Editora Ática, e vendeu cinco mil exemplares. A obra também foi lançada na Itália e há negociação para lançamento na Holanda e na França.
O livro é apontado pelos especialistas como uma das principais biografias do arcebispo. Um dos motivos é a relação entre o aspecto religioso, político, social e histórico, conseguida graças ao acesso a centenas de documentos pessoais disponibilizados pela família e pela secretária de Dom Hélder durante três visitas que Praxedes e Pileti fizeram a Recife entre 1995 e 1997.
Papéis secretos
Muitos dos papéis que estão no arquivo em Maringá são classificados como secretos e nunca foram revelados publicamente (mesmo no livro). Os documentos abordam assuntos polêmicos sobre os bastidores da igreja e da ditadura militar.
Um dos temas mais polêmicos publicados é sobre a articulação política e influência na imprensa do Brasil e da Noruega para evitar que Dom Hélder recebesse o Prêmio Nobel da Paz. Ele foi indicado em quatro edições, mas não ganhou.
Ele poderia ser um possível papa se ganhasse um prêmio de prestígio como o Nobel, comenta Praxedes.
Mas, por incomodar muita gente na época, inclusive os setores mais conservadores da Igreja Católica, Dom Hélder foi boicotado na imprensa e teve as viagens internacionais limitadas pelo Vaticano.
O objetivo era polemizar a figura de Dom Hélder, mostrar que ele era contraditório, como se fosse um oportunista, explica Praxedes.
O professor e escritor orgulha-se por não ter tido passagem do livro alguma questionada pelo religioso.
Dom Hélder recebeu o livro, leu, comprou outros, autografou e deu de presente para algumas pessoas, conta Praxedes.
Este é o segundo livro publicado em parceria entre Praxedes e Pileti. O primeiro foi O Mercosul e a Sociedade Global, lançado em 1994 pela Editora Ática e que vendeu 150 mil exemplares e está na 13ª edição.
Praxedes nasceu em Astorga e a família mudou para Maringá quando ele tinha nove anos. É professor da UEM há 16 anos. Graduado em Ciências Sociais pela USP, em 1990, tem mestrado em Educação em 1997, e é doutor em Educação em 2001, também pela USP.