Novo Acordo vai unificar a ortografia portuguesa em oito países até 2012;
mudanças serão sentidas principalmente com o fim da trema, acentuação gráfica e
emprego do hífen
A partir do dia 1º de janeiro entra em vigor o Novo Acordo Ortográfico que
deverá unificar a ortografia portuguesa entre oito países. As mudanças atingem
0,46% do idioma no Brasil.
Na língua portuguesa, considerando-se todos
os países, será alterado 1,65%. Embora pareça pouco, as novas regras já
preocupam profissionais ligados à área, como professores, editores, jornalistas,
escritores, entre outros.
O trema deixará de existir, com exceção de
nomes próprios, e as palavras paroxítonas com ditongo aberto perdem o acento.
Estas são algumas das alterações que terão três anos para serem incorporadas à
ortografia.
Mas, o que muda na prática? Segundo o professor doutor em
Filologia e Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Manoel
Messias Alves da Silva, que apóia a reforma, no Brasil as mudanças são poucas: o
alfabeto passará de 23 para 26 letras, pois incorpora o K, Y e W. E ainda,
dentro de um grupo de generalidades, que integram, por exemplo, os encontros
consonantais, não haverá diferença no Brasil.
O professor Manoel da
Silva explica que, neste caso, Portugal deverá estranhar mais as mudanças, pois
palavras como baptismo perderão o p do encontro pt.
No Brasil, a
trema será abolida. Mas o brasileiro vai sentir dificuldade principalmente com
os ditongos que deixam de ser acentuados, comenta. Ele cita o exemplo da
palavra heróico, uma paroxítona com ditongo aberto que perde o acento.
No entanto, a palavra herói?, que é uma oxítona com ditongo aberto
(oi), da mesma etimologia, mantém o acento, complementa.
Ele diz que
as pronúncias serão respeitadas e os dicionários vão trazer as duplas
grafias.
Outro problema que os brasileiros terão que enfrentar
refere-se à supressão do acento diferencial em algumas palavras. Por exemplo, o
verbo pára perde o acento e apenas o contexto deverá diferenciá-lo da
preposição para.
No entanto, o acento circunflexo permanece no verbo
pôr diferenciando-o da preposição por, acrescenta o professor. Haverá
também queda de acentos em paroxítonas de vogais duplas, como vôo, enjôo,
lêem, etc. Estas palavras seguirão a regra geral, ou seja, as paroxítonas não
são acentuadas, explica o professor Manoel da Silva.
Vogais
dobradas
Outra mudança significativa para os brasileiros sobre a
língua portuguesa refere-se ao emprego do hífen. O acordo foi muito feliz,
porque colocou uma regra mais simples que a atual, afirma o professor,
destacando que a hifenização se divide em dois grandes grupos: em palavras
compostas e em palavras derivadas.
A única crítica é que o acordo não
tocou na questão do advérbio de negação não. O que vamos fazer como o
não-religioso, por exemplo?, questiona Silva, que defende a mudança
ortográfica. Ele diz que, no Brasil, este advérbio é incorporado como se fosse
um prefixo.
Estrangeirismos
Manoel da Silva
diz que, no Brasil, houve uma tentativa de eliminar os estrangeirismos. E havia
previsão até de multa, principalmente para o comércio que usa expressões
estrangeiras em anúncios. Obviamente, os estrangeirismos irão continuar, pois a
língua é viva.
Isso, porém, não vai afetar a ortografia. A expressão
estrangeira entra por um processo fonético e depois passa para o processo
ortográfico, respeitando a ortografia de cada país, explica.
Vanda Munhoz