Graduado
em Farmácia Bioquímica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e
doutor em Ciência de Alimentos pela Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp), Miguel Machinski Junior coordena o laboratório de
toxicologia da UEM, da qual é professor.
Surpreso com a proibição do monocrotofós no Brasil, que ele considera
acertada, Machinski revela que a presença de ditiocarbamato entre as
substâncias químicas encontradas na análise da Anvisa foi o que mais
lhe chamou a atenção.
"Ele deixa um resíduo comprovadamente cancerígeno", afirma. Ainda que a
presença das substâncias químicas seja medida em ppm (partes por
milhão), Machinski alerta para o risco. "Daqui a pouco será preciso
comer morango usando máscara."
O diário - O monocrotofós deveria ter sido proibido mesmo?
Miguel Machinski Junior - Ele é um organofosforado,
grupo considerado neurotóxico. Eu entendia que ele era proibido na
cultura de hortaliças, mas autorizado para outras. Para mim, foi
novidade. Mas o que me chamou mais a atenção na lista foi o
ditiocarbamato.
Ele é muito utilizado como fungicida e deixa um resíduo no alimento que
se chama etilenotiluréia, um composto comprovadamente carcinogênico.
Além disso, muitos estudos mostram que ele tem um efeito na diminuição
do número de espermatozóides. Esse resíduo é superperigoso.
Quais são os problemas que os organofosforados provocam nas pessoas?
Agudamente, eles causariam alguns efeitos que provavelmente não ocorrem
porque são resíduos. Mas podemos destacar distúrbios do sono,
dificuldade de concentração, ansiedade e agitação. Os organofosforados
acabam lesando o sistema nervoso por várias vezes, quando a exposição é
contínua.
Geralmente medimos em ppm (parte por milhão), que pode parecer pouca
coisa, mas são muitas substâncias juntas. Pegue o morango, que tem um
monte de substâncias. Daqui a pouco será preciso colocar máscara para
comer esta fruta.
E quanto aos produtos não autorizados para determinadas culturas?
Tem vários. Às vezes, eles até matam as pragas das culturas para as
quais não estão autorizados, acredito até que são usados porque matam
mesmo. E é justamente nestas culturas não autorizadas que eles deixarão
resíduos, que passarão a ser um problema para quem consumir .
O endossulfan apareceu em quase tudo. A estrutura química dele é muito
parecida com a dos organoclorados, que foram proibidos em 1983. E ele
continua sendo utilizado no Brasil, até onde não é autorizado.
Há quem diga que não é novidade o tomate apresentar resíduo de agrotóxicos. Deve-se ou não ficar indiferente a estes resultados?
De jeito nenhum. O limite máximo de resíduo serve para dar segurança.
Se está acima desse limite, significa que o produto é impróprio para
consumo.
A que o senhor atribui a alta presença de resíduos de agrotóxicos nas culturas avaliadas?
Pode estar havendo falta de fiscalização, deficiências no próprio
receituário agronômico e até falta de informação do agricultor.
No caso do agricultor, deve ser difícil pensar em mudar a maneira de trabalhar a terra.
Para os agricultores, de certa forma esses produtos dão resultados
muito bons, porque se acaba mesmo com as pragas. Com as pragas e a
saúde.
E como limpar os alimentos para tirar os resíduos?
Se ele foi absorvido pela planta, não tem como eliminar. Aquele que
fica por fora recomenda-se lavar em água corrente, deixar de molho com
vinagre ou cloro (hipoclorito) e lavar de novo em água corrente.
Dependendo do grupo de substâncias, a redução (dos agrotóxicos) pode
chegar a 70%. O problema é que a orientação é para que se gaste entre
10 e 15 minutos para lavar os produtos. Quem fará isso?