Marivânia Conceição de Araújo
Professora doutora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM)
É sabido que durante toda a história o Brasil recebeu a contribuição
dos afro-brasileiros, que nossa cultura tem fortes elementos da
culinária, música, vocabulário, religiosidade, e da afetividade
relacionados à cultura africana.
Dissertações e teses acadêmicas em diferentes áreas do conhecimento
comprovam esses fatos. Dados dos IBGE mostram que a população
brasileira é composta por 50% de indivíduos negros e pardos.
Segundo informações da PNAD, os afro-brasileiros perfazem a segunda
maior nação negra do mundo, atrás somente da Nigéria. Mas, por que a
população negra e parda não tem a visibilidade e o espaço na mesma
proporção da sua importância histórica e cultural no Brasil?
A despeito do valor e capacidade já demonstrado pelo povo negro, seu
mérito não é reconhecido nos livros didáticos ou na mídia, o que se
torna, por exemplo, um problema para a auto-estima de crianças que não
se vêem nesses livros, nos cargos de comando, nos postos políticos de
maior prestígio ou como protagonistas das novelas e demais programas de
TV. Sem dúvida, essa invisibilidade deve ser questionada.
A população negra ainda é vítima do preconceito racial, da
discriminação, como conseqüência dessas mazelas, o negro não é
selecionado para os melhores cargos no mercado de trabalho - mesmo
quando está qualificado - recebe os mais baixos salários - como
demonstram os recentes dados apresentados pelo IPEA -, quando está
empregado tem mais dificuldade em ser promovido e nas escolas não
recebe o mesmo tratamento que os alunos brancos e asiáticos.
Sim. Existe racismo no Brasil. O próprio Estado brasileiro já
reconheceu esse trágico problema que, embora dissimilado e silencioso,
pois poucos o assumem, afeta a vida de metade da nossa população.
Pessoas que são discriminadas em locais públicos geridos pela
iniciativa privada ? como loja e restaurantes - e em órgãos públicos
como hospitais, postos de saúde, escolas universidades, delegacias,
etc.
A Constituição Nacional afirma que todos são iguais, independente da
sua cor, sexo, etnia, religião, condição sexual, credo, porém no nosso
cotidiano é possível perceber as desigualdades, os diferentes
obstáculos impostos à população negra.
A invisibilidade do negro e a discriminação racial são algumas das
razões para termos o Dia da Consciência Negra: 20 de novembro. Nesse
dia podemos falar mais e nos fazer ouvir com maior atenção sobre a
discriminação racial que não se trata de um problema exclusivo dos
negros.
É vergonhoso para uma sociedade que se pretende boa e justa abrigar um
sentimento tão mesquinho e anti-social como o preconceito. Nesse dia,
deve-se falar, denunciar os atos de discriminação, mas principalmente,
é preciso reivindicar junto aos órgão públicos, à iniciativa privada e
à população em geral a punição dos atos discriminatórios e buscar ações
efetivas que levem ao seu fim.
Outro motivo para festejarmos o dia 20 de novembro é a lembrança do
herói brasileiro Zumbi dos Palmares. Herói que, durante a escravidão,
lutou pela liberdade de seu povo.
Conquistou a sua liberdade e a de centenas de negros, índios e brancos,
liderando uma grande comunidade durante décadas na Serra da Barriga em
Alagoas.
Seu legado deve ser lembrado sempre, como o brasileiro forte,
guerreiro, sonhador vitorioso, que conquistou a liberdade, sua história
deve ser lembrada por aqueles que têm um sonho de justiça e que desejam
dividí-lo com todos da sua pátria.
Comemorar o Dia da Consciência Negra é lembrar dos problemas raciais
brasileiros, mais também dos nossos heróis negros, celebres em diversas
áreas como a música com Cartola e Gilberto Gil, a engenharia com André
e Luiz Rebouças, na literatura com Machado de Assis e Luiz Gama, na
geografia com Milton Santos, no judiciário com Joaquim Barbosa, na
política com Abdias do Nascimento, nos esportes com Diane dos Santos,
Pelé e Robinho, entre tantos outros!
É dia de comemorar porque Zumbi dos Palmares vive no coração de cada
brasileiro guerreiro que quer mudar para melhor o nosso querido Brasil.
Viva Zumbi!