O Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Maringá (UEM) defende que a solução para as festas de repúblicas e aglomerações em bares, que tiram o sono da vizinhança no Jardim Universitário, está na promoção de atividades culturais.
A idéia é que, em vez de ir ao boteco ou fazer um churrasco na calçada, os universitários freqüentem shows musicais, peças de teatro e declamações de poesias. A prática já começou: semanalmente, saraus são promovidos dentro do campus.
Para o coordenador-geral do DCE, Phillip Natal, 22 anos, acadêmico de Ciências Biológicas, apenas as atividades culturais não seriam suficientes para tirar os estudantes dos bares. Falta o álcool.
Infelizmente, a juventude se pauta no álcool para se divertir, justifica.
Por conta disso, outra bandeira que o DCE é a liberação da venda de bebidas alcoólicas no campus, em eventos promovidos por entidades estudantis.
O DCE não poupa críticas à ação da Polícia. Segundo Natal, há excesso nas abordagens aos estudantes que se aglomeram ao redor dos bares. Na noite de quinta-feira, por exemplo, a polícia mandou todo mundo para casa, mas não usou violência.
Leia a seguir os principaus trechos da entrevista:
O Diário: Qual a posição do DCE sobre as ações policiais, como na noite de quinta-feira (na ocasião, a polícia dispersou os frequentadores dos bares das imediações da UEM)?
Phillip Natal: A ação da Polícia, como ocorre desde a formação da força-tarefa pelo Poder Público Municipal, é atacar fisicamente e moralmente os estudantes. Em vez de resolverem o problema, as autoridades agravaram a situação. E qual a nossa posição sobre isso? O DCE não quer legitimar o som alto durante a madrugada. Queremos encontrar uma solução inteligente para resolver os conflitos. O que conseguimos fazer, em um primeiro momento, é tentar trazer os estudantes para dentro da universidade, por meio de eventos culturais. Nossos saraus têm música, apresentações de dança e teatro. É uma forma de não incomodar os moradores do bairro e ter o respeito da polícia. O resultado é que o reitor liberou a realização desses eventos. No sarau mais recente (quinta-feira, 10), utilizamos uma aparelhagem de som cedida pela Reitoria. E o evento sendo realizado no campus, não há incômodo para os moradores.
O Diário: Além dos eventos culturais, há outros projetos para evitar os conflitos entre estudantes, moradores e polícia?
Phillip Natal: O DCE está em busca de alternativas. Nosso papel é demonstrar que a Polícia está atuando de forma repressora. E, ao mesmo tempo, queremos encontrar soluções. É um problema que foi criado no bairro. Infelizmente, o Poder Público, ao em vez de resolver, apenas o agravou. A Reitoria se propôs a ir com a gente ao 4º Batalhão da Polícia Militar para conversar sobre o que está acontecendo. Vamos tentar fazer um debate com a Reitoria, associação de moradores e Polícia Militar, para que todos dêem as opiniões, para chegarmos a uma solução.
O Diário: Vocês já procuraram entrar em contato com a polícia para reclamar das ações?
Phillip Natal: Ainda não conseguimos estabelecer diálogo. A justificativa da Polícia para agir com truculência é que há desacato por parte dos estudantes. Mas a postura adotada pelos policiais impede qualquer diálogo. Você vai conversar com o policial e é agredido verbalmente. Por isso, estamos contando com o intermédio da Reitoria para conseguir uma reunião com os policiais. Aqui no DCE, a gente tem até uma frase: O ladrão me assalta e a polícia me bate. Sou estudante da UEM.
O Diário: O DCE pede a liberação do consumo de álcool na Universidade. Qual a finalidade?
Phillip Natal: Infelizmente, a juventude se pauta no álcool para se divertir. E entramos em um conflito: é proibido o consumo de álcool na Universidade. Queremos instaurar a discussão sobre a liberação do consumo de álcool. E quando falamos em liberação, não é a venda na cantina ou aqui, em plena luz do dia. A discussão que a gente faz sobre a liberação do álcool é para atividades promovidas por entidades estudantis. E essas atividades deverão acontecer em locais e horários que não comprometam o bom funcionamento da universidade. Mas não cabe ao DCE ou à reitoria decidir sobre o consumo de álcool. Quem tem poder para decidir isso é o Conselho Universitário.
O Diário: Vocês já receberam alguma crítica direta pela proposta de trazer os estudantes que estão no bar para atividades na Universidade?
Phillip Natal: A Assessoria Municipal da Juventude disse que estamos apenas transferindo o problema de lugar. Não é verdade. No bar, o cidadão só bebe. Nossa ação é focada não na bebida, mas na cultura.
O Diário: A lei do silêncio estabelecida pelo Poder Público é vista como um problema para os estudantes?
Phillip Natal: Não digo que a lei do silêncio seja um problema. Mas nos moldes como foi estabelecida, passando o aval para a Polícia fazer o que tem feito, está errado. E a única instituição que tem se colocado contra as agressões é o DCE. A associação dos moradores do bairro tem uma crítica legítima contra o barulho. Concordamos com isso, sei que o meu direito termina onde começa o do outro. Nossa defesa é que o morador não seja incomodado, mas que os estudantes sejam respeitados.Vale lembrar que na reunião que estabeceu a criação da força-tarefa para combater a poluição sonora, falou-se que seria aberto um debate para que o poder público cedesse um local para as atividades dos estudantes. Estamos esperando até agora. Não recebemos ofício algum informando a cessão de um espaço público para atividades culturais.
O Diário: Na reportagem da edição online desta sexta-feira e na versão impressa deste sábado de O Diário, há o relato do jornalista de que havia cheiro de maconha no sarau promovido pelo DCE. Como é a política do DCE com relação ao consumo de drogas ilícitas na Universidade?
Phillip Natal: Como órgão que promove o evento, o que a gente tenta fazer é evitar. Não posso chegar no cara e falar para que ele não use. Não tenho autoridade para isso. Mas estamos sempre de olho para evitar isso, o DCE tem comissões de segurança, que ficam circulando no meio do público que comparece aos eventos. Quanto ao tráfico de drogas, temos certeza de que isso não acontece aqui dentro.
O Diário: O DCE tem conhecimento se o problema no entorno da UEM é um caso isolado no Estado?
Phillip Natal: O problema que está acontecendo aqui não é isolado. Temos reuniões com outros DCEs do País e sabemos que em Londrina, por exemplo, a repressão está maior ainda. Além da repressão policial, há repressão da Reitoria dentro do campus. Na Universidade Federal de Minas Gerais, a repressão policial está começando agora.
O Diário: Quais as maiores demandas hoje dos estudantes na UEM?
Phillip Natal: Precisamos de um maior número de professores efetivos. Hoje, temos uma gama muito grande de professores colaboradores. O professor colaborador pode ser um ótimo profissional, mas o vínculo dele com a Universidade é muito curto, são apenas dois anos. O resultado é que com essa limitação não há tempo suficiente para que esse profissional desenvolva pesquisas. Outra reivindicação é a construção da Casa do Estudante. Além de servir como uma moradia para os estudantes, a casa deve servir indiretamente para diminuir a especulação imobiliária aqui na Zona 7. Porque hoje nós pagamos provavelmente o metro quadrado mais caro do Paraná para morar perto da Universidade. O aluguel talvez seja mais caro que de um apartamento no Litoral. E, finalmente, pedimos que o governo libere mais recursos para a Educação.