Um best-seller lançado em 2007, A menina que roubava livros, conta a história de uma jovem alemã, chamada Liesel que, como o título indica, roubava livros que nortearam a vida dela.
Isso, numa época em que a Alemanha sofria os horrores do nazismo e da Segunda Guerra e que, portanto, a leitura de determinadas obras poderia custar a vida.
Em Maringá, apesar de não estarmos em guerra, nem ameaçados pelo nazismo, pequenos mas constantes furtos de livros são registrados nas bibliotecas públicas.
Na Biblioteca Municipal Bento Munhoz da Rocha Neto existe uma lista negra com mais de 300 nomes de pessoas que, por não terem devolvido livros, estão proibidas de fazer novos empréstimos, não só lá como também nas outras quatro bibliotecas públicas da cidade.
Na Biblioteca Central da Universidade Estadual de Maringá, 602 livros deixaram de ser devolvidos nos últimos oito anos. Furtos já são quase impossíveis, pois faz uma década que existem grades nas janelas, justamente para evitar as quedas de livros por elas, antes, coisa freqüente.
Pouco tempo depois, o sistema eletrônico de segurança também foi implantado (sistema este que é o sonho de qualquer biblioteca, inclusive a Municipal, onde a vigilância ainda é feita por guardas e, na saída, uma funcionária confere se nenhum livro está saindo sem querer).
Na Municipal, onde a Constituição Brasileira é um dos livros mais furtados, quem atrasa a entrega de livros tem como punição a suspensão, calculada de acordo com os dias e a quantidade de livros em atraso. Já na UEM, a punição é multa (R$ 1, 95 dia/livro).
Se a multa fosse menor, muita gente ia preferir ficar com o livro. Mas nós não temos o número de exemplares suficientes para os usuários. Fazemos campanhas para devolução sem cobrar multa - a Semana do Perdão - mas a última foi há uns quatro anos, diz a diretora, Ana Estela Codato.
A multa tem função educativa e a arrecadação serve para a compra e restauração de livros.
Sem número
Não temos como medir número de roubos, porque não há um levantamento estatístico. Sabemos que alguns livros somem, como os de bruxaria , diz a diretora da Biblioteca Municipal, Geni Kenji Matsuda.
Ela explica que livros sobre esses assuntos já nem são mais comprados, uma vez que vão sumir. Também há casos de leitores que fazem empréstimos especiais: O guarda já encontrou sacolas de livros três vezes ao pé da escada. As pessoas pegam e devolvem, a gente não sabe como.
Certa vez, mais de 30 livros da Biblioteca foram encontrados em um sebo. Foram exigidos de volta.
Hoje em dia, os sebos já olham se o livro tem carimbo de biblioteca e, se tiver, não compram, diz Geni.
Sempre acontece de tentarem nos vender livros com carimbo da Biblioteca Municipal, geralmente de literatura. As pessoas se fazem de desentendidas, falam que nem notaram o carimbo. A gente não compra. Quando acontece de não vermos o carimbo na hora e notarmos depois, devolvemos para a Biblioteca, explica a funcionária do Sebo Fonte do Livro (próximo à Biblioteca Municipal), Vanessa Dantas.
Sei que um grupo de góticos, freqüentadores noturnos de cemitérios, tinha um plano para roubar O livro dos vampiros - enciclopédia dos mortos vivos. Mas um do grupo delatou e o plano não deu certo. O livro está aqui até hoje, conta o funcionário Afonso Alexandre Filho.