A arena vazia do Parque de Exposições, no último 28 de outubro, um dia após a morte de Jhonata Silva, 14 anos, alvejado por bala de revólver calibre 22: segundo homícidio no mesmo local, este ano
Na manhã seguinte a um baile no Clube do Vovô, conhecido ponto de
encontro de idosos em Maringá, na Avenida Lagura, Zona 8, mesmo
policiais militares e civis, acostumados aos mais variados tipos de
violência, declararam-se surpresos com a ocorrência.
Por ciúmes, um aposentado de 72 anos matou a facadas a ex-companheira,
de 59, que estaria interessada em outro idoso, para depois se suicidar
com um tiro na cabeça.
Um exemplo lamentável de como um ato inconseqüente, no calor do
momento, pode dar ares de tragédia a um ambiente que deveria ser de
diversão e entretenimento.
O crime no Clube do Vovô, ocorrido na tarde de 14 de abril deste ano -
um domingo - abalou o ânimo dos freqüentadores do lugar que, segundo a
Polícia Civil, sempre foi tranqüilo.
Foi o primeiro dos três homicídios dolosos (quando há a intenção de
matar) registrados em festas em Maringá, desde o início do ano, de um
total de 32 homicídios dolosos acontecidos no período.
Os outros dois casos aconteceram no Parque de Exposições Francisco Feio
Ribeiro, com envolvimento de jovens e adolescentes. Nas três situações,
motivos banais motivaram o crime.
Isso, fora inúmeros casos de agressão física, a maioria dos quais nem
chega ao conhecimento da polícia. A psicologia, a sociologia e a
polícia arriscam explicações para o fenômeno.
Mestre em Psicanálise pela Universidade de Madrid e professor do
Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (UEM),
José Artur Molina acompanha os casos de brigas em eventos festivos.
Para ele, o comportamento agressivo, especialmente dos jovens, pode ser
atribuído a três fatores: história pessoal - uma situação de abuso
sexual na infância, por exemplo -, influências do grupo com o qual o
indivíduo se relaciona, drogas e álcool.
"Essas pessoas podem ter tido sérios problemas na infância. Também não
podemos esquecer que, quando as pessoas estão em grupos, a
individualidade se dilui no coletivo e aí é possível que até o
indivíduo que não seja agressivo possa vir a sê-lo, por essa
contaminação promovida pelo grupo maior", diz o professor.
"O álcool e os ácidos (drogas alucinógenas) também contribuem para que
se tenha um ambiente propício para atos de vandalismo e de
comportamentos agressivos", diz.
Pavio curto
Segundo o oficial de comunicação do 4º Batalhão de Polícia Militar (4º
BPM), tenente Alexandro Marcolino Gomes, os homicídios com dolo, na
maioria dos casos, são resultado de desentendimentos que em outros
tempos não passariam de um bate-boca. "O estopim da coisa pode ser uma
namorada, o assédio a uma menina que estava acompanhada ou ainda o
simples fato de um esbarrão, o que é um absurdo", diz.
Brigas em festas, principalmente em eventos com cobrança de ingressos e
com grande público, são comum nos boletins de ocorrência da PM.
"Tem fatos que acontecem que a Polícia Militar nem é acionada, tomamos
conhecimento da situação só no dia seguinte, por comentários de
terceiros", diz o tenente Gomes.
"Às vezes a própria organização da festa não quer que o ocorrido se
torne público para não denegrir a imagem do evento", comenta o militar.
Grande parte dos casos de violência em festas, segundo a PM, pode ser
atribuída ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas e à falta de uma
revista pessoal rigorosa na portaria, facilitando a entrada de
indivíduos com drogas e armas nos eventos. "Armado, o sujeito se sente
mais poderoso.
Se ainda estiver alcoolizado ou sob efeito de substância entorpecente,
o comportamento tende a ser ainda mais agressivo", observa o tenente.
Independentemente dos motivos que levam à violência em ambientes de
festa, o delegado-adjunto da 9ª Subdivisão Policial de Maringá (9ª
SDP), Nilson Rodrigues da Silva, diz que o número de ocorrências só
tende a cair quando, por força de lei, a liberação para a realização de
festas se torne mais rigorosa. "Minha autorização só sai da delegacia
após o preenchimento de todos os requisitos. Se faltar um, não expeço o
alvará", afirma.
Na opinião da socióloga Ana Lúcia Rodrigues, do Departamento de
Ciências Sociais da UEM, o problema deve piorar nos próximos anos,
porém, tem solução a longo prazo (leia nesta página). Contudo, enquanto
o comportamento agressivo de alguns continuar colocando em risco quem
vai à balada para se divertir, a melhor dica é fugir de confusões e,
segundo a PM, jamais tentar apartar briga. Pode sobrar para a pessoa
que é bem intencionado, mas mal preparada para lidar com a situação.
Além de sugerir que a pessoa de bem freqüente festas em que haja a
revista pessoal, de preferência com detector de metais, o tenente da PM
sugere a humildade para se esquivar de situações em que uma briga seja
iminente.
"Se alguém falar algo como 'você olhou para minha mulher', seja humilde
e responda 'amigo, estou aqui com minha esposa e se você percebeu isso,
por favor me desculpe, não era essa minha intenção'. Nunca retruque
contra quem quer confusão", recomenda o tenente.
Número
9%
3 em 32 dos homicídios dolosos registrados este ano, em Maringá, ocorreram em festas com cobrança de ingresso
Três Perguntas
Tenente Alexandro Marcolino Gomes >> do 4º BPM
1) Evitar locais com histórico de violência é uma boa dica?
É uma boa dica, mas se você gostar muito de ir num local como esse,
procure ficar próximo de pessoas que você perceba que não vão arrumar
problema.
Através dos gestos, as pessoas demonstram suas intenções, em regra
geral apontam se são de bem ou não. Num show onde há mais empolgação,
ficar perto do palco é mais perigoso. Evite.
2) Se o cidadão de bem notar, numa festa, que outra pessoa está armada, que procedimento deve tomar?
Primeiro de tudo, mantenha a si à sua família em segurança, e
então, deixe o local. Repare as características da pessoa, as roupas e
depois ligue para a Polícia Militar ou procure a segurança do evento.
Se viu uma arma de fogo, procure apenas a PM, porque mesmo o segurança
do evento não vai poder fazer a abordagem em alguém armado.
3) Nesse caso, a denúncia pode ser anônima?
Pode repassar a situação anonimamente, mas é lógico que a
gente pede que haja prudência na informação. Hoje, 60% das ligações
feitas para o 190 ou não são casos de polícia ou são trote.
Quando se despende duas ou três viaturas para entrar num evento para
procurar uma pessoa armada, para perceber que era trote, a gente deixa
várias outras pessoas desguarnecidas de segurança.