Aqui nesse mesmo jornal, um conhecido dirigente do PT municipal e
também professor da UEM expôs uma avaliação sobre o desempenho de seu
partido nas últimas eleições.
A intenção aqui não é exatamente concordar ou discordar da conclusão a
que chega o autor dessa avaliação, com quem, aliás, costumo aprender
muito sobre Maringá e sua história.
Mas considero pertinente tecer alguns comentários sobre a natureza das
considerações que embasam sua avaliação, pois ela ilustra bem a
rationale que veio ganhando espaço no PT. É desse ponto de vista que a
avaliação merece atenção.
Assim foi dito que, embora o PT não tenha saído vitorioso nas eleições
para a prefeitura da cidade, o resultado de sua atuação no pleito foi
positivo.
As justificativas são: o partido conseguiu reeleger seus dois
vereadores e ainda mais um pela coligação; entre aqueles com chances de
vencer, seu candidato a prefeito era o menos conhecido e foi o que mais
ganhou votos no decorrer da campanha, tendo chegado em segundo na
corrida eleitoral; somando-se o porcentual alcançado pelo candidato do
PT à prefeitura ao que conseguiu João Ivo Caleffi, que era do PT até
pouco tempo, chega-se ao resultado de 28,5%, que equivale ao mesmo
porcentual conquistado pelo partido no primeiro turno de 2004. Essas
considerações sustentam a conclusão de que o PT manteve, assim, seu
capital eleitoral.
Entretanto, como não se poderia deixar de reconhecer, a avaliação faz a
seguinte ressalva: "houve um insucesso relativo" do PT, já que o
resultado das eleições majoritárias significou a vitória de um "grupo
bem estruturado", o "realinhamento dos grupos hegemônicos de Maringá".
Quero chamar a atenção para o fato de que as considerações levantadas
para fundamentar a avaliação são de natureza técnica, matemática. Não
há nenhuma frase nela que evoque a dimensão política do resultado
eleitoral e que instigue os leitores do jornal a fazerem uma reflexão
sobre o tipo de projeto político que escolheram para sua cidade.
Desse modo, as considerações são reveladoras da preocupação de fundo
que norteou a avaliação do processo eleitoral. Ela se sintetiza na
pergunta: quanto espaço no Estado o meu grupo conquistou?
Bom, pode-se perguntar: a conquista de espaço no Estado não é mesmo a
finalidade dos partidos? E se é assim, é óbvio que os cálculos
matemáticos devem entrar em jogo, norteando estratégias, fundamentando
avaliações.
Mas, se ocupar o Estado é projeto de qualquer partido político, o que
essa avaliação evidencia é que para expoentes da direção petista esse
projeto está desvinculado de propostas políticas mais substantivas para
a cidade.
E, nesse sentido, é significativo que a avaliação designe os
adversários do PT simplesmente como: o outro grupo, o que está bem
estruturado. Essa designação não instaura critérios políticos para o
reconhecimento das forças que disputam a cidade, a não ser o critério
do "amigo/inimigo".
A própria campanha eleitoral careceu de um debate político mais
profundo sobre os projetos de cidade que as coligações partidárias
representavam.
Tanto o candidato petista como o que venceu as eleições restringiram a
política a uma questão de "competência técnica". Se o PT teve algum
"insucesso relativo", ele está no fato de que o candidato do PP soube
convencer que reunia mais do que os demais os atributos que a própria
campanha petista para prefeito ajudou a tornar critério de escolha
eleitoral: o tecnicismo.
Carla Almeida
Professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Maringá (UEM)