Para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a Universidade oferece às mulheres um café da manhã no RU
A Universidade Estadual de Maringá (UEM) recepciona nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, estudantes e servidoras para uma confraternização em café da manhã, no Restaurante Universitário (RU), das 7h30 às 9h30. No período da tarde, a Reitoria também comemora a data em encontro com as gestoras administrativas.
Os eventos são uma forma do Gabinete da Reitoria prestar homenagem às mulheres que contribuem para o crescimento da Universidade, sejam elas, técnicas, estudantes ou professoras das mais diversas áreas de atuação (ensino, pesquisa e extensão). De acordo com o chefe da Divisão de Planos e Informações da Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento Institucional (PLD), Márcio Noveli, o universo feminino já é maioria na comunidade acadêmica da UEM: entre alunos, professores e técnicos, 54% já são representados pelo sexo feminino. As professoras e técnicas representam 50% do quadro funcional e as alunas de graduação, 55%.
A data de hoje, comemorada desde 1975, quando foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU), simboliza a luta das mulheres por igualdade e contra preconceitos, no sentido de se equiparar aos homens em todos os setores da sociedade. Apesar de passado quase meio século, são tantas as agressões sofridas pela mulher que até hoje ainda é preciso manter acesa a luta pela igualdade de gênero, pois as estatísticas insistem em mostrar desigualdades em todas as esferas da vida, com registros diários de assédio, abuso e violência.
Diferenças que até hoje, mantém homens na maioria dos cargos de poder, mesmo sendo as mulheres a maioria na população brasileira (51%). O mesmo ocorre na esfera de servidores públicos, onde o porcentual de mulheres chega a 61%, segundo dados da República.org, organização que atua na valorização do serviço público.
A vice-reitora da UEM, Gisele Mendes, deixa uma mensagem especial às mulheres da comunidade universitária, pedindo para que elas se unam. “É preciso que as mulheres tenham sororidade, que apostem em mulheres. O nosso mundo foi concebido nessa estrutura machista não só porque os homens se sobrelevam naturalmente. A gente sabe que isso não é verdade. É porque as mulheres competem muito. As mulheres competem pela aparência, as mulheres competem pelos cargos, as mulheres competem em casa, as mulheres competem em relação à criação dos filhos. Ou seja, tudo é muito competitivo e fomentado nesse ambiente. E isso faz com que as mulheres se afastem. Elas vão preferir o homem que tem um paradigma completamente diferente e inalcançável e no qual elas vão confiar e votar. E por isso os homens são os políticos e os mandantes da nossa sociedade. Então tenham sororidade, meninas. Confiem em outras mulheres, porque podem não ser vocês hoje, mas amanhã será. E vocês estão confiando em outras mulheres que vão fazer o bem para vocês e vão servir de incentivo para que vocês também possam chegar lá”, destaca.
O reitor da UEM, Leandro Vanalli, também enviou uma mensagem de felicitações pela data de hoje. “Nesta data especial, eu quero parabenizar todas as mulheres pelo seu Dia Internacional e destacar e parabenizar as mulheres da nossa Universidade, as estudantes, as servidoras, que tanto fazem pela nossa UEM, ocupando espaços, desenvolvendo a nossa Universidade, assumindo cargos, sendo responsáveis por tantas conquistas. Nossos parabéns a todas as mulheres em nome da Universidade Estadual de Maringá, a nossa amada UEM”
Para marcar a data, refletir sobre o assunto e dar voz às mulheres, a reportagem do Notícias UEM ouviu seis mulheres da comunidade universitária que fazem a diferença. Elas falam sobre suas trajetórias de vida pessoal e profissional e percalços vividos até chegarem onde estão.
Cleuza Caetano da Silva - Zeladora da reitoria da UEM
Zeladora há 25 anos na UEM, Cleuza conta que nasceu em Peabiru, mas que se mudou para Maringá ainda criança. Aos 12 anos, já trabalhava como babá e, aos 13, começou a sofrer assédio no trabalho, o que continuou mesmo quando exerceu outras profissões, como diarista, vendedora e secretária. “Passar no concurso da UEM mudou a minha vida, foi minha salvação porque tudo que eu tenho devo a este lugar. Eu nem sei o que seria de mim se não fosse a UEM, pois minha vida era muito difícil”.
Na opinião dela, a mulher sempre foi muito forte, pela dupla jornada que faz, dentro e fora de casa, e por enfrentar o desrespeito. “O problema é que o homem é muito machista, a mulher merece ser homenageada porque é uma lutadora, este dia é um reconhecimento de tudo que a gente faz, como mãe, esposa e trabalhadora”.
Cleuza superou todas as agressões que sofreu e começou seus estudos aos 16 anos. “Eu não tive muita oportunidade de estudar, pois tinha que trabalhar. Mas antes de terminar o último ano dos estudos engravidei e tive que parar de estudar. E só consegui concluir o 2º grau depois de entrar na UEM.
Ela é enfática em afirmar que hoje a mulher é muito mais respeitada do que era antes. “Antigamente, era muito desrespeito. Eu mesma passei por muita situação constrangedora. Naquela época, tínhamos vergonha de falar e como não falávamos, os homens se aproveitavam. Hoje em dia, se eles fizerem isso sabem que vão ter o que merecem. A mulher está no céu em vista daquela época”, frisa.
Emilly Gabriela Bastida da Silva - estudante do último ano de Direito e diretora da Growth
A acadêmica de Direito, Emilly Gabriela Bastida da Silva, conta que sua trajetória pessoal e profissional se entrelaçam porque tudo que ela conquistou foi através de muito estudo e muitas oportunidades. Aos 13 anos, venceu um concurso regional e ganhou uma bolsa integral para estudar no Colégio Regina Mundi, em Maringá. Aos 18 anos, passou no vestibular da UEM e, em 2019, iniciou a graduação em Direito. Sua última conquista foi no ano passado, quando ingressou na Harvard Business School, em um programa executivo de desenvolvimento de liderança. Hoje, Silva está à frente da Growth, da empresa Neos Innovation.
Como todas as nossas entrevistadas, a estudante também enfrentou discriminação de gênero. “Infelizmente, diante da estrutura social em que vivemos, as mulheres sempre partem um passo atrás - não por falta de capacidade, mas por ausência de oportunidades. Grande parte da minha jornada profissional foi percorrida ao lado de homens, e para que eu pudesse acompanhar o ritmo e estar ao lado deles como igual, muitas barreiras precisaram ser quebradas. Essa batalha se tornou mais evidente quando assumi cargos de liderança. A forma como lidei, e ainda lido, com cada uma dessas situações é tendo clareza do meu lugar na sociedade, seja meu lugar de fala ou meu lugar como profissional. Sempre tive um mindset muito forte de que eu podia fazer qualquer coisa, bastava querer e me dedicar para tal, e que ninguém poderia menosprezar ou me violentar por ser mulher”.
Na visão dela, a data de hoje não é meramente uma celebração, mas também um momento de lembrança àquelas que antes lutaram para que hoje as mulheres pudessem estar no mercado de trabalho e exercendo os direitos básicos de cidadania. “É um momento de união, solidariedade e fortalecimento da voz feminina, reafirmando que juntas somos mais fortes na busca por um mundo mais justo e igualitário para todas as pessoas”.
Silva vê que os estudos não apenas fornecem conhecimento e habilidades, mas também capacitam as mulheres a buscar oportunidades que antes eram inacessíveis. “Os estudos têm o poder de conscientizar as mulheres sobre seus direitos, sua história e seu potencial. O conhecimento é uma ferramenta poderosa que capacita as mulheres a se expressarem, a defenderem seus direitos e a desafiarem as injustiças”.
Ela ainda reforça que as universidades desempenham um papel crucial na luta pelo igual tratamento de gênero, ao fornecerem os recursos e o apoio necessários para capacitar as mulheres a alcançarem seu pleno potencial e contribuírem de forma significativa para uma sociedade mais justa e inclusiva. “É crucial que as universidades fomentem discussões e disseminem conhecimento sobre o tema do igual tratamento de gênero. Isso inclui não apenas oferecer programas de estudo e pesquisa dedicados à questão, mas também promover eventos, seminários e palestras que abordem a importância da igualdade de gênero na sociedade. Como uma mulher que enfrentou e enfrenta desafios ao longo da carreira, reforço a necessidade contínua de empoderar as mulheres e criar ambientes inclusivos que promovam o crescimento e o desenvolvimento de todos.
Evanilde Benedito - professora do Departamento de Biologia - Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (DBI/Nupelia) e coordenadora de Área de Biodiversidade da Capes
Graduada pela UEM, Evanilde Benedito fez mestrado, doutorado e pós-doutorado em outras instituições públicas brasileiras, mas permanece na UEM desde os 21 anos. Ela conta que sofreu muitas dificuldades em sua carreira, simplesmente por ser mulher. “Mas não foi só eu, toda uma geração enfrentou dificuldades profissionais por ter que lidar com o fato de compatibilizar o tempo (e a mente) com a profissão e a família, incluindo filhos. Todos os dias são de luta, mas uma data para não ser esquecida, como a de hoje, é importante para estarmos juntas: brancas, pardas, negras, quilombolas, indígenas, trans, LGBTQIAP+. Devemos ser respeitadas, independente da faixa etária, condição física, classe social ou origem.”
Para Evanilde, a formação educacional é sinônimo de libertação. “A menina deve aproveitar a oportunidade de formar-se e informar-se. Sabemos que as oportunidades não são iguais para todas, num país tão assimétrico, mas a sociedade deve estar mais preparada para oportunizar condições para as meninas serem o que quiserem ser e estar onde quiserem estar”.
Ela acredita que a universidade deveria refletir mais sobre igualdade de gênero nas comissões, cargos de chefia e representações. “Vejo, inclusive, que as exigências para concursos são desiguais. A maioria das mulheres teve sua produção estagnada por dois ou mais anos, enquanto se ocupavam em gerar e criar seus filhos. Espero que as meninas de hoje tenham voz e vez em todas as áreas do conhecimento”, almeja.
Maria dos Anjos, técnica administrativa da Farmácia do Pronto-Socorro do Hospital Universitário da UEM
Maria dos Anjos trabalha, há 33 anos, na Farmácia do Pronto Atendimento do Hospital Universitário. Ela conta que enfrentou muitas batalhas para chegar onde se encontra hoje. “Sou filha única de mãe solo, que não mediu esforços para me proporcionar estudo e que sempre me incentivou a ocupar o meu espaço mesmo com nossas limitações. As dificuldades de uma mulher em sua trajetória profissional são diversas e sabemos que não é de hoje. Temos que ralar dobrado para sermos reconhecidas pelo que fazemos. A forma que sempre lidei, até hoje, é dar o meu melhor e mostrar que uma mulher pode ser o que ela quiser e fazer a diferença”.
Para ela, o Dia Internacional da Mulher é muito importante para lembrar que, apesar das lutas e vulnerabilidades, cada vez mais a mulher conquista espaços e que pode ir além “Somos fortes e não o sexo frágil que nos ditavam na infância.”
Ela não tem dúvidas de que a educação é o degrau principal que a mulher precisa para conquistar os locais mais altos e que a universidade tem um papel importantíssimo nisso, pois proporciona conhecimento e ele liberta as pessoas.
“Nosso papel como mulher é continuar lutando e ensinando nossos filhos que toda mulher deve ser respeitada e nossas filhas para que não se curvam diante das dificuldades que o machismo nos impõe”, vislumbra.
Mauriza Menegasso, secretária Municipal de Educação de Umuarama e doutoranda em educação pela UEM
Mauriza Gonçalves de Lima Menegasso é aluna do Programa de Pós-Graduação em Educação da UEM e, desde 2018, atua como secretária de Educação do município de Umuarama. Anteriormente, durante 20 anos, trabalhou na unidade do Sesc de Umuarama. Lá atuou por oito anos como coordenadora de educação e cultura e por 12 anos, como gerente executiva Também atuou como professora da Educação Básica.
Mauriza lembra que teve problemas em sua carreira, principalmente como gerente executiva do Sesc. “Por um tempo tive o salário menor do que os gerentes homens com a mesma formação e tempo de trabalho, além de sofrer assédio moral e sexual e ter que provar a competência de forma mais rigorosa que os colegas homens. Sem falar em ter que conciliar a maternidade com o trabalho”.
Como ainda há muita desigualdade de gênero e muito por conquistar, ela vê a data de hoje de total relevância. Ela também considera que o acesso ao ensino foi uma das conquistas da mulher de fundamental importância para seu empoderamento e colocação no mercado de trabalho. “Por meio da pesquisa, das pesquisadoras e das professoras, a universidade desempenha um papel crucial na luta para combater a desigualdade de gênero”, avalia.
Neusa Altoé - membro do Conselho de Administração (CAD) da UEM
Professora Neusa Altoé, começou na UEM como servidora técnica-administrativa, mas após concluir seu mestrado, foi aprovada no concurso de docentes. Além de ter atuado como professora do Departamento de Teoria e Prática da Educação (DTP), exerceu cargos eletivos, como chefe do DTP, diretora do Centro de Ciências Humanas (CCH), vice-reitora, reitora, pró-reitora de Recursos Humanos e membro do Conselho Universitário. Em sua carreira, é preciso destacar que ela foi a primeira mulher a ocupar o cargo de reitora no Paraná, no período 1998-2002.
Ela relata que, ao longo de sua carreira, teve muitas dificuldades relacionadas aos cargos. “Desde que eu estou nos cargos eu sempre digo que não tem diferença entre homem e mulher. Eu sempre falo que as dificuldades são as do cargo e não de gênero. Claro que, na minha época, as dificuldades eram maiores, pois não tínhamos a Lei Maria da Penha. Hoje em dia a mulher tem várias formas de se defender e se proteger, mas é um absurdo que ainda, a cada 15 horas, uma mulher morre de feminicídio. A mulher tem que erguer a cabeça, enfrentar as dificuldades de igual para igual, pois temos a mesma capacidade que o homem, a mesma força”.
Altoé vê a data de hoje muito importante, pois dá mais visibilidade às mulheres na batalha contra as dificuldades impostas pela sociedade. “Acredito que o ensino, estudo, formação é fundamental e conduz a mulher no melhor caminho na luta pelas igualdades de condições no mundo real. A Universidade sempre lutou por meio de suas políticas públicas, para combater a desigualdade de gênero. Muitas barreiras já foram conquistadas, mas a luta continua”, finaliza.