Depoimentos apresentados constam os desafios para lidar com o transtorno e relatos até chegarem à Universidade
Para ajudar na conscientização e dar mais visibilidade ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), a UEM TV lançou ontem (23), por meio do Youtube, um documentário da série intitulada "Vozes". Participaram da gravação Felipe Piva Amorim (aluno do curso de Letras/Inglês) e sua mãe Maisa Carla Piva, Mariana Garcia Lima (acadêmica do curso de História) e o professor do curso de Comunicação e Multimeios, da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Pier Paolo Negri.
Durante os depoimentos, em alusão ao Abril Azul estabelecido por meio da Organização das Nações Unidas (ONU), eles comentaram sobre os desafios, as dificuldades impostas pelo TEA e como lidam com a situação no cotidiano e na Universidade.
O professor do curso de Comunicação e Multimeios da UEM, Pier Paolo Negri, que é uma pessoa autista (não binário) e representante da Associação Nacional para a Inclusão da Pessoa Autista, da região sul, disse no depoimento que o seu diagnóstico foi tardio. Depois de tratamentos com vários psicólogos e teste feito por esses profissionais, foi descartada alguma deficiência, porque ele tinha a fala preservada, relacionamentos sociais e por se desenvolver nos estudos, por exemplo, o doutorado em Comunicação. Comentou ainda que, com a pandemia teve um isolamento muito grande, além da falta, principalmente, de socialização e de várias crises de pânico. "Não queria me socializar e não estava querendo sair de casa". Apesar de ser um período considerado muito triste, para ele, foi um "momento confortável ficar em casa isolado e isso fez com que eu perdesse as habilidades sociais que tinha até então", lamentou.
Em seu relato, o professor disse também que o autismo é uma deficiência invisível e muitas vezes as pessoas não reconhecem isso, dependendo do grau de suporte que o autista enfrenta. "Tenho dificuldade 'literal', não entendo o que é dito nas entrelinhas ou frases com segundas intenções e preciso de intérprete".
Negri espera que o acesso à universidade seja facilitado para todas as pessoas com deficiências, não apenas para o autismo, e que, a sua permanência seja facilitada para que possam desenvolver seu potencial.
A aluna de História na UEM, Mariana Garcia Lima, de 25 anos de idade, foi diagnosticada aos 17 com TEA no mesmo período em que passou no vestibular. Ela argumentou que o Programa Multidisciplinar de Pesquisa e Apoio à Pessoa com Deficiência e Necessidades Educativas Especiais (Propae), da UEM, a ajudou nas condições em que podia e nesses últimos oito anos o assunto evoluiu bastante. "Estou no coletivo com sete outros estudantes e professores que possuem o transtorno e que me entendem e falam a mesma linguaguem".
Apesar disso, Mariana reclamou que "a universidade pública não está preparada para pessoas atípicas, pessoas neurodivergentes, porque, de maneira geral, as instituições não oferecem apoio às pessoas nas suas especificidades. E, justificou: "cada autista é diferente do outro. Tenho hipersensibilidade auditiva e audiovisual que me incomodam, além de dificuldades com som alto e excesso de luzes".
A universitária comentou em seu depoimento que tem aprendizado audiovisual, ou seja, só ouvindo e vendo, assimila as aulas e por isso prefere prova oral, porque se expressa melhor falando do que escrevendo. "Não consigo colocar as ideias no papel de forma que fique um texto acadêmico, mas não desisto dos meus sonhos", concluiu.
No documentário, Felipe Piva Amorim, estudante de Letras/Inglês na UEM, 20 anos de idade, disse que escolheu o curso porque gosta de Inglês e se indentifica com ele. "Apesar de todos os obstáculos, vale a pena. Tento ficar mais no presente".
Maisa Carla Piva, mãe do Felipe, falou sobre o diagnóstico do filho aos sete anos de idade. "Ele tinha dificuldades de alfabetização na infância e, a partir daí, iniciou as terapias. A socialização é sua maior dificuldade, mas é considerado muito inteligente, aprendeu inglês sozinho, e, depois estudou numa escola bilíngue e agora está fazendo o curso que gosta na UEM". Apesar da superação ser difícil, diante de cada situação, ela afirmou que "a busca de ajuda de bons profissionais é importante e a família não deve desistir".
Saiba mais sobre TEA
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), uma em cada 160 crianças no mundo tem Transtorno do Espectro Autista (TEA).
A cor azul foi escolhida porque o autismo atinge muito mais meninos do que meninas, na proporção de quatro meninos para uma menina, fato que a ciência ainda não consegue explicar.
O autismo pode ser identificado ainda nos primeiros anos de vida, embora o diagnóstico de um profissional seja dado apenas entre os 4 a 5 anos de idade. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, o TEA é um transtorno de desenvolvimento neurológico, caracterizado pela dificuldade de comunicação e/ou interação social.
Algumas características: Dificuldade de interação social, dificuldade em se comunicar, hipersensibilidade sensorial, desenvolvimento motor atrasado e comportamentos repetitivos ou metódicos podem identificar a presença do TEA. O autismo funciona em níveis, ou seja, ele pode se manifestar de forma leve até uma forma mais severa. Esse diagnóstico detalhado será dado por um profissional da saúde.
Serviço: Documentário "Vozes", acesse.
Duração: 11:53
Imagens e edição: Ronaldo Vanzo
Produção: Pâmela Suélen Trindade
Direção: Paulo Cesar Pupim