Setembro Amarelo é celebrado com curso
Com objetivo de dar apoio ao Setembro Amarelo, mês de prevenção e combate ao suicídio, o Hospital Universitário Regional de Maringá (HUM) promoveu um curso sobre esta temática nos dias 27, 28 e 30 de agosto. Por essa razão, conversamos com a professora doutora Lúcia Cecília da Silva (foto abaixo), do Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá (DPI/UEM), que ministrou o curso Prevenção, pósvenção e combate ao suicídio, aqui no HUM.
A professora Lúcia começa nos contando que o comportamento suicida se inicia na ideação suicida – aqueles pensamentos de “querer terminar com a vida” –, passa pela planificação, ou seja, o sujeito planeja de como executar o ato, as tentativas até ocorrer a morte. Vamos saber mais?
Pergunta – Como é que a gente pode observar que uma pessoa está com intenso sofrimento e pensando em por fim à vida?
Resposta – Ela começa a falar que a vida não tem sentido, que ela não aguenta mais, que ela é um peso para família e para as pessoas, que a família e as pessoas ficariam melhores sem ela... São falas que a gente considera falas de alarme. Mas aí, quando ela começa a obter os métodos para consumar o ato, ela já começa, por exemplo, designar seus pertences a algumas pessoas. Dar uma coisa para um, uma coisa para outro. Ela começa a falar assim: “se acontecer alguma coisa comigo, minha conta é tal... Cuide do meu filho assim, termine esse projeto dessa forma”. Então, ela começa a fazer um testamento em vida. Fala que o sofrimento dela vai acabar e tudo isso um dia vai chegar ao fim. Temos ficar atentos a todos essas manifestações, que não são as únicas fontes alarmantes para identificar pensamentos suicidas. Precisamos observar quando a pessoa está mais isolada, triste, mais reclusa. Já que todos estes podem ser indicadores desta ideação suicida.
P – Como funciona quando a pessoa não demonstra nada?
R – Isso de não mostrar sinais, não dar aviso, é até um mito que a gente ouve quando se discute o suicídio. Porque sempre têm alguns sinais, é que a gente não tem a acuidade, a atenção em observar, devido ao estigma, ao preconceito que se tem em relação ao sofrimento psíquico. Às vezes, as pessoas não acreditam nestes sinais, até como espécie de defesa de achar que não é tão grave. De que não vai acontecer isso comigo, na minha família... Mas não, acontece. É passível atingir qualquer um. As taxas de suicídio têm demonstrado isso. As pessoas demonstram sinais, sim. Raramente ela fica muito quieta e a gente não vê. Mas eu penso que nós podemos mudar, falando mais sobre o suicídio, levando informações às pessoas, compartilhando as formas de abordar quem está em sofrimento... Tudo isso vai desvelando a situação e a gente vai observando melhor as pessoas.
P – Quais são as causas que levam a pessoa a pensar em cometer suicídio? São causas biológicas, sociais ou todo um contexto que leva a isso?
R – Todos esses são fatores que intervém no fenômeno do suicídio. Tanto é que os estudiosos dizem que é um fenômeno multidimensional, multicausal. Então, não dá pra gente dizer que o suicídio aconteceu por esta razão ou com esta justificativa. Ele tem toda uma configuração que entra nos fatores individuais, mas também familiares, da comunidade, econômicos, sociais. Hoje em dia, por exemplo, a questão social, as questões relacionadas à precariedade dos trabalhos, ao desemprego, à questão dos direitos sociais das pessoas têm contribuído muito para isso no mundo todo. Não temos como apontar um motivo específico ao suicídio. Sabemos que os países desenvolvidos possuem altos índices suicidas. Os países que detêm as maiores taxas também detêm as melhores condições de vida. Vão prevalecer os fatores de ordem psicológica, de ordem existencial, a falta de sentido da vida. A falta de se envolver em atividades prazerosas, em atividades comunitárias, entre outras questões. Por exemplo, um dos fatores é esse sofrimento mental, a depressão, o abuso de álcool e outras drogas. Não que isso cause, estou falando que esses fatores estão associados a esse sofrimento. Mas é muito difícil falar que em tal país acontece por isso, é realmente uma conjugação de fatores que favorecem esse sofrimento.
P – A gente vê muito na mídia esse alerta sobre o bullying. Está ficando mais grave a situação e as pessoas geralmente associam isso com a depressão e o suicídio. Existe realmente essa relação?
R – O que eu posso falar é que não dá pra fazer uma associação direta sobre o bullying com depressão e o suicídio. Mas, assim, o bullying é uma violência. As crianças ficam muito fragilizadas, os adolescentes também. Eles se sentem “despertencentes” a um grupo. Tudo isso causa muito sofrimento mental, sofrimento emocional e, se tem outros fatores que atuam junto, pode favorecer à tentativa do suicídio como uma solução para o problema. Enfim, como outros fenômenos, esse também é importante entre as causas do suicídio, principalmente com crianças e adolescentes. Mas há, ainda, a violência doméstica, o abuso sexual, todos esses tipos de violência que agridem o indivíduo. Quando a pessoas encontra algum apoio, consegue superar de alguma forma, né? A escola, a família que dá valor aliviam o sofrimento, ajudam a encontrar um encaminhamento para a questão. Mas quando se sofre violência, quando a pessoa é violentada até na sua autoestima e não consegue ajuda, o desfecho pode ser o suicídio.
P – E como a gente pode abordar essa pessoa que não busca ajuda?
R – Estar próxima dela e mostrar genuína preocupação. Chegar nela e falar: “olha, estou percebendo que você está sofrendo, está passando por algum problema, observei que você falou isso, que tem se comportado de tal e tal maneira, tem se mostrado assim. E estou muito preocupado com você, o que posso fazer pra te ajudar?”. Oferecer ajuda, acolhimento e escuta é muito importante. Precisamos aproveitar as datas como setembro amarelo, já que é quando se promove a conscientização de toda população, para que as pessoas conheçam o fenômeno, possam compreendê-lo melhor e se sintam prontas para falar sobre ele. Esse processo ajuda na intervenção e na prevenção do suicídio. Se você estiver precisando de ajuda ou conhece alguém que demonstra os sinais que falamos aqui, a encaminhe Unidade de Psicologia Aplicada (UPA), que fica na Avenida Mandacaru, ao lado do Hemocentro Regional de Maringá, nas mediações do próprio Hospital Universitário. Dentro do campus universitário, temos o Ambulatório de Saúde Mental que a comunidade interna da Universidade pode buscar.
Além disso, todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) podem acolher quem buscar ajuda. Ainda há o número de atendimento gratuito o 188! Vamos combater, efetivamente, o suicídio!