upa infografico 2019

A UPA, com quase 5 mil pessoas beneficiadas em 2018, e o CCI, que dá suporte inclusive às vítimas de tentativa de suicídio, são exemplos da gama de serviços

Desde projetos de extensão e de pesquisa até projetos de iniciação científica, a Universidade Estadual de Maringá desenvolve centenas de ações voltadas para a prevenção ao suicídio até o tratamento da saúde mental tanto de estudantes quanto de agentes universitários e professores.

Seja no âmbito administrativo das pró-reitorias ou como atividades institucionalizadas em diversos setores ligados à administração central, incluindo o hospital universitário, a UEM conta inclusive com trabalho ambulatorial e ainda direciona parte destas ações para atender às pessoas da comunidade externa.

A Unidade de Psicologia Aplicada (UPA), por exemplo, promoveu diversas ações voltadas para a saúde mental em 2018 e em 2019 em parceria com o Departamento de Psicologia (DPI).

Com atendimento gratuito, em diferentes modalidades, para a população de Maringá e região, a UPA contabilizou, em 2018, mais de 5.800 procedimentos que beneficiaram 4.934 pessoas por meio de ações desenvolvidas por estagiários, professores e agentes universitários do DPI.

Com estas ações, a Unidade beneficiou 26 instituições públicas e privadas, das quais sete escolas e quatro empresas privadas, além de outras instituições municipais de saúde, órgãos e associações.

Dentre as modalidades de intervenções ocorridas, estão as abordagens psicossociais, acolhimento psicológico, aconselhamento psicológico, consulta terapêutica (pais + filho), diagnósticos institucionais, incluindo o diagnóstico de saúde mental ocupacional, escuta e acolhimento, psicoterapia individual e terapia familiar.

Os procedimentos mais comuns foram as sessões individuais, no total de 4.745, seguidos, de longe, pelo número de encontros grupais, que somou 402 ao longo do ano passado.

De maneira integrada à Diretoria de Assuntos Comunitários (DCT) e ao Diretório Central dos Estudantes (DCE), a UPA está buscando estabelecer um cronograma de diálogos interdisciplinares com os estudantes nos sete Centros de Ciências da UEM.

Segundo a professora Renata Heller de Moura, coordenadora geral da UPA, a ideia é que estes contatos se dêem por meio de eventos, rodas de conversa, grupos de estudo, reuniões, fóruns e debates, visando a discussão, reflexão e enfrentamento de situações relacionadas com a saúde mental e direitos humanos, incluindo reflexões sobre o fomento de ações afirmativas. 

Além disso, a Unidade de Psicologia Aplicada planeja promover a integração dos colegiados de cursos da graduação, centros acadêmicos, atléticas, ligas acadêmicas e Diretório Central dos Estudantes, com a meta de estabelecer ações e debates interdisciplinares sobre as situações que frequentemente impactam na adaptação à vida acadêmica, como circunstâncias ligadas à saúde mental, saúde em geral e direitos humanos. 

Em 2019, já foram promovidos dois eventos com o propósito de fomentar o diálogo sobre saúde mental, um voltado aos alunos do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCH), no dia 2 de abril, e outro direcionado aos acadêmicos do Centro de Ciências da Saúde (CCS), ocorrido no dia 11 de junho. O próximo evento terá como público alvo os estudantes dos centros de Ciências Tecnológicas (CCT) e de Ciências Exatas (CCE).

No dia 3 de setembro, a UPA participou do evento de Formação Docente promovido pela Pró-Reitoria de Ensino, ampliando o diálogo sobre saúde mental no contexto universitário com coordenadores de Curso.

A Unidade acabou de implantar um serviço de Plantão Psicológico para pronto atender necessidades de saúde mental da comunidade interna e externa da UEM.

No decorrer de 2019, houve atendimento a demandas de saúde mental discente, por meio de atendimento a individuais e grupais. Variados eventos foram organizados para incluir a temática da saúde mental nos espaços acadêmicos, de maneira formal (em eventos de extensão) e de maneira informal (por meio de rodas de conversa).

Levantamento das demandas

O levantamento das demandas de saúde mental vinda de alunos está sendo feito por meio de pesquisa quanto-qualitativa, de iniciação científica (orientada por professores do Departamento de Psicologia), de caráter exploratório. 

Com o intuito de dimensionar a demanda em saúde mental entre os estudantes da UEM, a pesquisa aborda e engloba o modo como a demanda se apresenta para os diferentes setores e órgãos institucionais que teriam a responsabilidade por prestar algum apoio aos alunos no sentido da permanência estudantil. 

A pesquisa ainda está em andamento e pretende abordar, via questionário e reuniões de discussão, 31 centros acadêmicos (CA), 66 colegiados de curso e 6 órgãos que fornecem atendimento/apoio aos estudantes. Devidamente apreciada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da UEM e aprovada em conformidade com a legislação, a pesquisa terá em breve os resultados apresentados na próxima edição do Encontro de Iniciação Científica (EAIC) da universidade.

Mas, o atendimento neste campo não fica restrito aos serviços oferecidos pela UPA. No câmpus sede da UEM, em Maringá, a comunidade acadêmica pode ser atendida de graça no Ambulatório Médico e de Enfermagem e no Serviço de Medicina e Segurança do Trabalho (Sesmt), locais que trabalham integrados à rede pública de saúde.

Inaugurado no ano passado, o bloco da residência psiquiátrica dispõe de atendimento aos alunos e servidores necessitados de acompanhamento na área de saúde mental. O atendimento é feito por estudantes de Medicina matriculados na residência de psiquiatria, com a supervisão de professores do curso.

Ainda preocupada com a temática envolvendo a prática do suicídio, a Universidade Estadual de Maringá desenvolveu ou desenvolve nos últimos seis anos ao menos 24 projetos de pesquisa voltados para o assunto.

A relação abrange até o tema do suicídio infantil, pauta que é tratada num projeto voltado para a reflexão sobre o cuidado em saúde mental oferecido pelos serviços públicos de saúde. Iniciada em agosto de 2019, a pesquisa continua em vigência, com previsão de ser concluída em julho de 2020.

Outros projetos também em andamento vem abordando tópicos como o suicídio e trabalho; o suicídio em postagens na Internet; a dinâmica de espalhamento de suicídios no Brasil; e o suicídio de universitários no Brasil e na América Latina.

Outro importante setor de apoio é o Centro de Controle de Intoxicações (CCI), instalado dentro do hospital universitário. Ele atende em torno de 500 casos por mês, dos quais 40% relacionados à tentativa de suicídio quando não ao próprio ato consumado.

Cabe ao CCI oferecer suporte aos médicos nos casos de urgência toxicológica. Se uma pessoa ingere uma quantidade excessiva de comprimidos por exemplo, numa clara tentativa de tirar a própria vida, são os profissionais do CCI que orientam o serviço médico se o procedimento adequado é a lavagem gástrica, a utilização de carvão ativado, e assim por diante.

No âmbito administrativo, a Pró-Reitoria de Recursos Humanos e Assuntos Comunitários desenvolve várias ações tocadas sob a responsabilidade da Diretoria de Assuntos Comunitários (DCT). Dois projetos de extensão, coordenados pela assistente social Telma Maranho Gomes, diretora da DCT, estão focados nesta temática, ambos em fase de implementação.

Um deles leva o título de ’Promoção coletiva do viver saudável na comunidade universitária". A intenção é ampliar e aprimorar a política de gestão de pessoas, contribuindo para implantar a política de apoio e permanência de estudantes e fomentar a implantação da política de Direitos Humanos na UEM. 

A estratégia é desenvolver o projeto em três eixos de ações interligados: formação e capacitação; promoção coletiva do viver saudável; e a atenção psicossocial.

Levando em conta o contexto de uma comunidade universitária bastante complexa, por sua composição diversificada e heterogênica, a implementação de ações no campo da promoção da saúde e de modos de vida saudáveis, convivência coletiva, solidária e respeito às diversidade exige um esforço acadêmico amplo e uma ação interdisciplinar rigorosa. 

Assim, conforme a identificação de três frentes distintas de ação, o trabalho vai desenvolver estratégias de enfrentamento ao adoecimento crônico, visando a promoção da saúde do trabalhador em sua relação com o ambiente de trabalho e ao seu modo de vida. Também irá concentrar suas ações e propostas em busca do desenvolvimento de espaços que fomentem a discussão, a reflexão e o enfrentamento de situações relacionadas ao sofrimento psíquico e à saúde mental, principalmente da comunidade discente. 

E, numa terceira frente, voltará as ações para o fomento do respeito às diversidades e para colaborar com a implantação da política de Diretos Humanos na universidade.

Crise emocional

Numa pesquisa feita entre 2014 e 2015, o professor Murilo dos Santos Moscheta, do Departamento de Psicologia, levantou o perfil socioeconômico e cultural dos alunos de graduação da UEM. Um dado é que 43% dos estudantes entrevistados apresentaram dificuldade significativa ou crise emocional nos 12 meses anteriores à pesquisa.

76,7% declararam que a ansiedade é a dificuldade emocional que mais interfere em seu desempenho acadêmico. O relatório final da pesquisa apontou para a necessidade de desenvolvimento de uma ampla política de assistência estudantil na UEM.

Outro projeto chamado "Atenção e cuidado à comunidade universitária na perspectiva da atenção psicossocial", também sob a coordenação de Telma, visa ampliar e aprimorar a política de gestão de pessoas, contribuindo para implantar a política de apoio e permanência de estudantes e fomentar a implantação da política de direitos humanos na UEM. 

O trabalho será feito com base na constatação de que dos 3.866 servidores, dos quais 1.586 docentes e 2.280 agentes

Universitários, além de 21.946 estudantes, é nítido o envelhecimento dos servidores. 50,6% estão com idade acima de 50 anos e 76% acima de 43 anos.

O levantamento apurou, ainda, 32% dos servidores pediram licença e afastamento em 2017 e que isso está diretamente relacionado com a condição de saúde. Os dados sobre as doenças mais prevalentes dos servidores do hospital universitário mostraram que

as doenças psíquicas representaram 6%.

Com relação aos alunos, o “Perfil socioeconômico e cultural dos alunos de graduação da Universidade estadual de Maringá”, de 2013, constatou que dificuldades emocionais que mais interferem no desempenho acadêmico são ansiedade (76,5%); insônia ou alterações do sono (39,5%); sensação de desamparo/desespero/desesperança (33,5%); sensação de

desatenção/desorientação/confusão mental (28%); timidez excessiva (24,9%); problemas com outros alunos ou professores (19,5%); depressão (17%); medo/pânico (12,6%); e percentual de procura de atendimento psiquiátrico (11,63%).

Por isso, o projeto vai buscar superar as subnotificações dos agravos relacionados ao trabalho e visibilizar o sofrimento mediante a disponibilização de espaços de apoio e suporte para os trabalhadores e a comunidade universitária.

Algumas das ações específicas envolverão as áreas de Psicologia, com o atendimento psicológico individual e grupal (psicoterapia breve) por exemplo; a de Enfermagem, por meio de trabalho em grupo e a da participação em reuniões de equipe de cuidado; a de Medicina, com a atividades da Liga de Bioética e Implementação do Mentoring; e da área de Serviço Social, fazendo o acolhimento, escuta qualificada e acompanhamento social.