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Ideia é despertar neles a importância do conhecimento para os cuidados das vítimas de acidentes; veja as fotos do evento

Numa cidade com números no trânsito dignos de uma guerra, com mais de 16 mil acidentes apenas em 2018, as atividades desenvolvidas nesta sexta-feira (20) pela manhã, na Universidade Estadual de Maringá (UEM), tiveram como público alvo estudantes do primeiro e segundo anos de Enfermagem no sentido de que eles comecem a se familiarizar com o assunto.

Alunos da professora Débora Moura, envolvida na organização da Semana Nacional de Prevenção de Acidentes de Trânsito, os acadêmicos lotaram o auditório do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. 

Também integrante da Comissão de Análise de Dados do Programa Vida no Trânsito no município (PVT), junto com a também colega de Departamento, professora Thais Mathias, Débora entende ser fundamental inserir no ensino de graduação o conhecimento sobre os cuidados com as vítimas de acidentes, a quem os estudantes também irão atender durante os estágios. 

A convite da professora, fizeram palestra representantes da Polícia Militar (responsável pelo registro das ocorrências no trânsito), do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - Samu (encarregado do suporte avançado às vítimas) e da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana - Semob, parceira no projeto PVT.

Portela

Falando sobre algumas medidas preventivas no trânsito, o soldado Portela (foto acima), da PM local, lembrou, por exemplo, que nos cruzamentos onde não há sinalização a preferência é de quem trafega pela direita.

Levando em conta o volume de ocorrências com motocicletas, o policial alertou sobre a necessidade de se usar o capacete, inclusive para quem se desloca de patinete.

Embora a quantidade de acidentes detonem uma guerra nas vias públicas de Maringá, Portela disse que, em razão das ações feitas pelos profissionais envolvidos com o PVT, os números estão diminuindo, ainda que discretamente.

Outra recomendação dele foi o cuidado com os horários de pico, ou seja, às 7, 12 e 18 horas, quando aumentam as chances de acidentes. O cinto de segurança, indispensável para todos os ocupantes do veículos, segundo o PM, poderia ter evitado que 29 crianças de zero a onze anos tivessem entrado para as estatísticas das vítimas no trânsito local no ano passado.

Trotes

Jean

Enfermeiro intervencionista do Samu, Jean Michel Brito Costa (foto acima), que falou sobre Atendimento Pré-Hospitalar (APH), enalteceu o papel do profissional de enfermagem no Serviço, além de ter citado números que dão ideia não apenas sobre a importância do atendimento móvel de urgência como a conscientização de que o trote deve ser banido.

Uma decolagem do helicóptero utilizado pelo Samu tem o custo de pelo menos R$ 20 mil, de acordo com Jean. Este tipo de aeronave, conforme o enfermeiro, ajuda no resgate de vítimas em rodovias, especialmente. 

Numa realidade em que 90% dos acidentes de trânsito ocorrem por causa de imprudência do condutor, ele falou que o Samu trabalha no socorro às pessoas em várias vertentes, desde o atendimento até às atividades de capacitação e às ações de orientação.

Walesco 2019

O comandante do Pelotão de Trânsito, tenente Walesco (foto acima), reforçou a educação das crianças nas escolas como forma de impedir as zombarias ao telefone 190. De acordo com ele, 70% dos chamados a este número são trotes e, nos finais de semana, chegam a 85%.

Walesco enfatizou alguns comunicados aos condutores capazes de ajudar na redução das estatísticas no trânsito, como o hábito de olhar os espelhos retrovisores, deixar a faixa da esquerda para quem trafega mais rápido e dar passagem à viatura de sirene ligada, mesmo com o sinal vermelho no semáforo.

Rafael

Gerente de Educação para o Trânsito, Rafael Martins (foto acima), da Semob, respondeu às dúvidas do público. Frisou, ainda, a importância de o pedestre sinalizar com o braço a intenção de atravessar a faixa e a necessidade de o motorista ter o controle emocional para não revidar com xingamento ou provocação uma fechada no trânsito. Martins se recordou que, em 2018, por exemplo, um maringaense foi morto em Campo Mourão ao reagir a uma afronta enquanto dirigia.

Conclusões

Débora Moura (foto abaixo) defendeu tese sobre mortalidade no trânsito no Paraná, ao lembrar o impacto disso na saúde no curso de doutorado.

Segundo a professora, a ocorrência de acidentes de trânsito representa grave problema de saúde pública global, pois diariamente milhares de pessoas perdem suas vidas ou são feridas no trânsito, tanto nas estradas como também nas zonas urbanas. Citando números da World Health Organization, ela diz que em 2016 foram registradas 1,35 milhões de mortes em todo o mundo.

Ainda conforme Débora, 73% da população adulta das capitais brasileiras declararam que bebem e dirigem e, mesmo ainda com o passar dos anos e o endurecimento da lei, os resultados são indesejados. Os dados são da agência Brasil, da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Outros estudos, como o do pesquisador Silvio Duailibi, em 2007, mostram, numa pesquisa com 908 motoristas nas principais vias de trânsito de Diadema, estado de São Paulo, de fevereiro de 2005 a março de 2006, que 85% de jovens candidatos à primeira habilitação não conheciam alguém que tinha sido punido legalmente por beber e dirigir, 74% acreditavam que nenhum infrator receberia a pena legal e 64% consideravam mínima a chance de ser parado por policial ou sujeito a penalidades. 

Debora valendo

Estudo realizado em Porto Alegre analisou o comportamento de risco para acidentes de trânsito em jovens, antes e depois da implementação de lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas em postos de gasolina. E identificou que, apesar de 86% dos entrevistados referirem ter bebido e dirigido no último ano, apenas 9% relataram que foram abordados para fazer teste de alcoolemia.

Ter uma política nacional clara e específica sobre álcool é o primeiro sinal de comprometimento de um País com relação ao combate ao uso nocivo dessa substância, assinala a professora.

Segundo Débora, o Brasil é um dos 25 países do mundo que estabeleceram a tolerância zero para o consumo de bebida alcoólica por motoristas e um dos 130 que usam o teste do bafômetro como forma de garantia do cumprimento da lei.

alunas enfermagem

No Paraná, aconteceram, de 1980 a 2014, 62.426 óbitos por acidentes de trânsito na faixa etária de 15 a 49 anos. Uma das conclusões, conforme a professora da UEM, é de que é preciso reforçar a necessidade de ações articuladas entre os setores administrativos, de saúde e os demais segmentos da sociedade, essenciais para o planejamento de intervenções na saúde individual e coletiva.

Outra é fazer apelo para os usuários do trânsito quanto à prática rotineira e intensiva de cuidados consigo e com seus cidadãos. E, uma terceira conclusão, é a de que a Universidade tem papel fundamental em produzir um saber que seja vinculado e comprometido com a realidade, a fim de encontrar intervenções baseadas em evidências que sejam factíveis e que envolvam os profissionais de saúde.

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