Janet HIGUTI

Pesquisa feita na Bélgica constatou a redução do tamanho de algumas espécies em razão do processo de urbanização

A bióloga Janet Higuti, do Núcleo de Pesquisa em Limnologia, Ictiologia e Aquicultura (Nupélia), da Universidade Estadual de Maringá (UEM), participou de um estudo publicado na revista britânica Nature, na tarde desta quarta-feira (23), envolvendo também um grupo de ecologistas internacionais, especialmente da Bélgica, Brasil, França, Itália e Alemanha, demonstrando que a urbanização está gerando mudanças no tamanho do corpo dos organismos, em comunidades de animais terrestres e aquáticos. 

Graduada em Ciências Biológicas, pela UEM, Janet tem mestrado e doutorado em Ciências Ambientais também pela UEM, no curso de Pós-Graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA). 

Além disso, fez pós-doutorado no Royal Belgian Institute of Natural Sciences, em Bruxelas, na Bélgica, onde é colaboradora científica. Tem experiência na área de Ecologia, com ênfase em invertebrados bentônicos (animais aquáticos que vivem no fundo dos lagos e rios, associados ao sedimento) e perifíticos (organismos associados a objetos submersos na água, como rochas, troncos, e, especialmente, a vegetação aquática). Há alguns anos, Janet vem desenvolvendo pesquisas em parceria com o pesquisador Koen Martens (também co-autor do artigo), do Royal Belgian Intitute of Natural Sciencies (RBINS), como resultado do convênvio internacional mantido pela UEM e o Instituto.

O Instituto Real Belga de Ciências Naturais, situado em Bruxelas, é um museu dedicado à história natural e dentre as suas mais importantes peças estão 30 esqueletos fossilizados de Iguanodon, descobertos em 1878 em Bernissart.

Tanto Janet como Koen fazem parte do corpo docente do Programa de Pós-graduação em Ecologia de Ambientes Aquáticos Continentais (PEA), da UEM.

A pesquisa publicada na Nature foi desenvolvida na região de Bruxelas e Flanders, teve duração de cinco anos, com financiamento do Belgian Science Policy Office (BELSPO). 

Mesmo que o estudo tenha sido desenvolvido na Bélgica, ele pode "ser aplicado" em todo lugar, devido à crescente e rápida urbanização que ocorre em todo o mundo, onde se observam o fenômeno conhecido por induzir à perda da biodiversidade e à homogeneização biótica, conforme destaca um dos principais autores do artigo, Thomaz Merckx.

Segundo ele, "somos os primeiros a mostrar que a urbanização está causando mudanças bidirecionais no tamanho do corpo. O que demonstra nosso esforço conjunto de amostragem em dez grupos de animais é que a maioria dos grupos de animais mostra um padrão de dominância de espécies menores com crescente urbanização. Essa descoberta está totalmente alinhada com o aumento da temperatura ambiente que registramos para lagoas, campos e bosques em áreas urbanas, conhecido como - o efeito de ilha de calor urbano. Esses efeitos urbanos de ilha de calor selecionam tamanhos de corpo menores, pois aumentam os custos metabólicos ”.

Ainda conforme ele, para três grupos - borboletas, traças e gafanhotos - o estudo descobriu que o padrão foi completamente revertido. "Para esses grupos, o tamanho do corpo está positivamente ligado à mobilidade, e concluímos que deve ter superado o padrão geral em direção ao tamanho menor. Assim, ao invés de temperatura, suas comunidades urbanas parecem ser moldadas principalmente pelo alto grau de fragmentação do habitat - nós de fato mostramos que a fragmentação do habitat é fortemente aumentada pela urbanização ”.

Outro autor do estudo, o professor Hans Van Dyck, acrescenta: “pode-se realmente imaginar que a fragmentação tipicamente severa de recursos ecológicos em ambientes urbanos constitui um filtro efetivo na mobilidade, de modo que são principalmente as espécies mais móveis que são retidas dentro das comunidades urbanas".

Hans conclui: “para os grupos de animais onde ser móvel significa ser grande, essa fragmentação urbana resulta em mudanças no aumento do tamanho do corpo, já que as espécies móveis de maior porte terão menos dificuldade em lidar com o baixo nível funcional. conectividade típica para áreas urbanas ”.

Thomas Merckx enfatiza: “Nós esperamos que a perda de espécies por tamanho, que relatamos aqui, tenha forte impacto na função do ecossistema urbano, dado que o tamanho do corpo determina a dinâmica de redes ecológicas, como redes alimentares”. 

“Nosso planeta está se urbanizando rapidamente, e isso é conhecido por induzir à perda de biodiversidade e à homogeneização biótica. Nosso estudo demonstra que a urbanização também leva a mudanças no tamanho corporal em toda a comunidade para a maioria dos grupos de espécies estudados”, afirma.

Luc De Meester acrescenta: “acredito que nossos resultados abrem caminhos para estudos mecanicistas que elucidem como a urbanização leva a mudanças no tamanho do corpo, se o mesmo padrão também pode ser encontrado dentro das espécies e o que isso significa para o funcionamento do ecossistema urbano.” 

Ao concordar com o colega, Hans Van Dyck entende que "essas idéias serão essenciais para projetar cidades que mostrem efeitos menos fortes sobre a biodiversidade. Com base em nossas descobertas, os planejadores urbanos poderiam mitigar os efeitos de micro-clima e fragmentação da urbanização de forma mais eficaz com medidas implementadas em escalas locais e de paisagem. Tais intervenções envolvem a criação e alteração de lagos urbanos e infraestrutura verde urbana, a fim de aumentar a quantidade e a qualidade dos habitats".

O que é a Nature?

É uma revista científica interdisciplinar britânica, publicada pela primeira vez em 4 de novembro de 1869.  Além de ter sido classificada como a revista científica mais citada do mundo pela edição de 2010, do Journal Citation Reports, é uma das poucas revistas acadêmicas remanescentes que publica pesquisas originais em uma ampla gama de campos científicos. 

A Nature tem um público on-line de cerca de 3 milhões de leitores únicos por mês. A revista possui uma circulação semanal de cerca de 53 mil exemplares, mas estudos concluíram que, em média, uma única cópia é compartilhada por até oito pessoas. 

Os cientistas pesquisadores são o principal público da publicação. À frente de cada edição estão editoriais, notícias e artigos sobre temas de interesse geral para cientistas, incluindo assuntos atuais, financiamento científico, negócios, ética científica e descobertas científicas. 

Há também seções sobre livros e artes. O restante da revista consiste principalmente em trabalhos de pesquisa (artigos ou cartas), freqüentemente densos e altamente técnicos. 

 

Fonte: Wikipedia