É possível aliar preservação e valorização do conhecimento indígena? Pode-se garantir a proteção física e territorial indígena e ao mesmo tempo fortalecer a autonomia dos povos? Com essas perguntas, Almir Suruí, líder indígena dos Paiter Suruí (RO-MT) abriu uma palestra, nesta quarta-feira (26) à noite, na Universidade Estadual de Maringá.


Almir Suruí, que tem reconhecimento internacional e recebeu, entre outros prêmios, o de Heróis da Tecnologia pelo Google e de defensor dos direitos humanos pela Sociedade Internacional dos Direitos Humanos, na Suíça, foi considerado, em 2011, um dos 100 mais criativos no mundo dos negócios pela revista Fast Company. As respostas às perguntas que ele lançou foram dadas à medida que ele expôs a história do seu povo e, sobretudo, os projetos inovadores que giram em torno da economia sustentável e a utilização das tecnologias do século 21.

Segundo o líder, a Terra Indígena 7 de setembro, onde vive seu povo tem 248 mil hectares, com 95% de area preservada. O Plano de Gestão da terra é realizado com a participação de todos os clãs e da comunidade. A base do Plano é o fortalecimento da autonomia dos Paiter Suruí e a organização interna com Sistema de Governança baseado na tradição do povo. Almir Suruí explica que foram criados programas que abrangem proteção e conservação ambiental do território; sustentabilidade; cultura; segurança alimentar; saúde; educação; meios e vias de transporte, entre outros.

Ele também deu alguns exemplos de ações implementadas através do Plano, que foi desenhado para 50 anos. Essas ações abrangem: reflorestamento, projeto de carbono, proteção dos recursos hídricos e monitoramento da fauna; manejo do café e banana, plantio de roças tradicionais, turismo; fortalecimento dos rituais e transmissão oral dos conhecimentos; construção de escolas, formação de professores, apoio aos estudantes universitários. Dois outros focos importantes são o fortalecimento das organizações Paiter Suruí e a criação de um fundo de gestão gerido com transparência e repartição do beneficio para o povo Paiter.

Além da palestra, Almir Suruí também foi um dos membros de uma banca de defesa pública de dissertação do Programa de Pós-Graduação em História da UEM. Foi a primeira vez que um indígena participou de uma banca de mestrado no Paraná. O trabalho, intitulado Os Paiter Suruí: do arco e flechas às tecnologias do Século XXI, é de autoria do pós-graduando Zeus Moreno Romero (de nacionalidade espanhola), e foi orientado pelo professor do PPH, Angelo Priori.

O indígena é Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir), onde também dá aulas de sustentabilidade no curso de mestrado em Geografia.

O professor Lúcio Tadeu Mota, do Departamento de História, comentou que a presença do líder indígena na UEM foi um marco importante, reforçando a abertura que a Universidade dá para as populações indígenas. “Além da presença de acadêmicos em diversos cursos de graduação e também de um mestrando em Educação, a UEM abre suas portas para a participação de um indígena em banca de dissertação”, frisou o professor.